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Apê 711

O jato d’água quente castiga suas costas o que lhe causa certa aflição mas há um bálsamo espiritual que lhe anestesia a pele quando se lembra de Marina, no cômodo ao lado, nua sobre sua cama. E ele, a se banhar com as costas em puro fogo quente, após um amor feito de forma lenta, porém potente. Vira-se, revira-se do avesso debaixo do chuveiro. Ui!

Os azulejos do banheiro estão respingados pela fumaça daquele banho infernal. A luz do amanhecer cinza de um domingo qualquer entra pela janela, dando para esse banho um tom entre a tristeza do fado em preto e branco de Terra Estrangeira  e a alegria multicolorida de uma orgia gay do cinema boca do lixo. A fumaça alcança Marina no pequeno quarto, nua na cama. Um roto lençol está jogado sobre seu sexy corpo. Acima da cabeceira da cama, a imagem exala tons familiares: vê-se uma linda mulher loira, com seus trinta e poucos anos, abraçando maternalmente um garoto imberbe.

Marina gozou. Está cansada. Lembra-se, de relance, a noite realce que teve e sim, sabe quem é o rapaz no banheiro. Mesmo se não soubesse, e daí? É da sua conta? Mas e o nome? O nome, Marina? Do rapaz que estava ali, com ela na cama. O nome ela não sabe. Dá de ombros (e como dá) e acomoda-se em posição fetal na cama., Ah, saudades da mã. Mas ela não aceita a sua vida desse jeito em outra cidade, portanto é melhor não falar com a velha, não ligar, não responder os emails, não comprar presente no mês de Maio. Amor materno de cu é rola quando não há a compreensão por parte da progenitora de que não temos mais aquela ligação umbilical de outrora e que sim, somos todos diferentes. Melhor cancelar a tal da saudade.

Agora ela não quer pensar em nada. Quer ter a mente vazia após o gozo, deixem-me, grita. O cara do banho desliga o chuveiro, foi um grito? O caloroso banho recomeça após o silêncio de Marina. Deixem-me. Ela cai em um sono pesado, afunda dentre as cobertas ralas da cama daquele homem, perdendo-se entre os lençóis baratos.

Dentro do sonho, vários bebês percorriam a casa de Marina. E os bebês defecavam em toda a casa, em toda ela! E ela ajoelhada limpando toda aquela merda, o tempo todo, aquilo não era vida! Marina, de dentro do sonho, foi transportada para o passado. Onze anos de idade. Foi quando pela primeira vez na vida, Marina pode limpar seu próprio bumbum após usar o banheiro. Até essa data, sua mãe sempre fez o serviço. Não queria que ninguém tocasse em Marina, família evangélica rígida! O cu da minha filha eu mesma vou limpar até que ela se case!

Não adiantou, Marina emputeceu-se. Empoderou-se. Empinou o nariz e o bumbum e foi! Saiu de casa aos dezessete, pagou o aluguel pagando vários boquetes, fez amizades maluquetes, se liberou total mas nunca deixou de pensar na mãe toda vez que limpa o cu.

Epa! O banho acabou. O cara se aproxima de Marina, corpo banhado, quente, molhado, rijo. Aquele arrepio de tesão percorre a pele de Marina que permite que o homem a conheça (no sentido bíblico) mais uma vez. Ao gozarem, ele murmura no ouvido dela: “Você é a mulher mais doce do mundo!”. Ela ensaia aquele sorriso que o embasbaca. E pensa, convicta da força que tem: “Você não sabe de nada, inocente.”.

Em um pulo está de pé. Bota o vestido vermelho no corpo, saca a bolsa dependurada na cabeceira da cama, joga nos ombros, acende um cigarro e espera que o homem abra a porta para a sua saída. Distraída com o tilintar das chaves, se dá conta da palavra formada pelas letras metálicas no chaveiro do rapaz: MOZÃO. Você volta? pergunta o moço, cheio de ansiedade, em um tom quase juvenil. Volto sim, é só me chamar, viu mozão? A risada de Marina ecoa pelo corredor enquanto o garoto fecha a porta do apartamento com certa rispidez..

Marina detém-se por um momento observando as três placas metálicas que formam o número de identificação do apartamento:711. O barulho do elevador interrompe o pequeno transe frente à porta. Ela adentra rapidamente o elevador, procura por um espelho para retocar o batom vermelho. É só me chamar, mozão…

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